Sentir, sem querer
Domingo lento, alma vazia,
escrevo assim, em melancolia.
No fundo, Nina Simone…
"Feelings".
No YouTube, um velho vídeo.
E no olhar dela, um abismo contido.
"Feelings" — sentimentos.
Mas… que sentimentos eram aqueles?
Guardava?
Disfarçava?
Se segurava?
E quando o piano vem,
é flor da pele.
É gemido esquecido.
É dor sem nome.
Era amor?
Raiva?
Saudade?
Ou quem sabe…
uma sociedade?
Porque pra uma mulher negra,
retinta como ela,
os sentimentos são maiores.
Mais viscerais.
Mais antigos.
E, por sua vez,
infelizmente…
acostumados.
E a voz de Nina falha,
como se engasgasse na despedida.
O rosto cansado canta “Feelings”,
mas esse sentimento…
ah, esse eu não queria sentir.
Queria ser fria,
feito pedra no meio da rua.
Queria não ter te encontrado,
nem saber do gosto do teu nome.
Queria não ter te conhecido,
quem sabe… nem ter existido.
Porque sentir dói,
e nesse domingo lento,
tudo em mim era silêncio,
menos a saudade —
essa, gritava.
Mas apesar de tudo,
de toda essa vontade de não,
sei que sempre haverá esse sentimento.
Porque é ele —
por mais que machuque —
a base de tudo.
É ele que move,
que marca,
que faz viver.
E quanto mais a gente se aproxima,
mais ele cresce,
mais ele arde.
Porque o sofrimento vem
do quanto a gente sente.
Do quanto se entrega.
Do quanto… é real.
Somos de emoção.
Feitos de sentimento.
Mesmo quando a gente…
só queria esquecer.
E o mais curioso,
é que…
apesar de tudo isso,
de toda dor, de toda memória,
dependendo de tudo…
a gente encontra alguém.
Um outro alguém.
E sente tudo de novo.
De novo.
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